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22 setembro 2011

CRISE DO MARXISMO

Crise do marxismo
Texto postado orinalmente na comunidade orkut: Luiz Carlos Prestes



 
Penso que não se trata de crise do marxismo, mas sim de transformações na sociedade. Porém, embora o marxismo não seja mais relevante no âmbito político, constitui verdadeira importância no campo intelectual, pois a análise marxista, através de sua releitura, tem por finalidade a compreensão de como o capitalismo se desenvolve. Para a esquerda, o marxismo, não tem e não terá mais importância nas questões políticas, pois sua linguagem não se enquadra mais em tais questões, tampouco se encaixa como uma situação real do sistema capitalista mundial da atualidade. No entanto, o marxismo se torna fundamental para entendermos o desenvolvimento do capitalismo. E para se entender a realidade em que vivemos é preciso ser conhecedor da influência que o marxismo teve no século XX, até porque o mundo não pode ser mudado se não for entendido. Isso significa dizer que nenhum socialista nega as idéias marxistas; porém sabe, hoje, direcioná-las como base analítica fundamental na compreensão do mundo capitalista.

Em tempos remotos o marxismo voltava-se para uma análise crítica do capitalismo; enquanto que hoje é feito uma releitura crítica do marxismo sobre a forma com a qual o capitalismo impera. Daí sua importância.

Não podemos desconsiderar as mudanças ocorridas no mundo, mudanças estas não só econômicas, mas também culturais e sociais, e é fácil entender a partir de uma comparação entre a realidade dos séculos XVIII, XIX e XX , pelo menos em certas décadas deste último século e a realidade atual. Em tempos passados, a produção assalariada e a livre competição no mercado fortaleceram a não intervenção da economia estatal, onde a partir do século XIX, o capitalismo consolidou-se como sistema econômico, social e político e a burguesia adotou o liberalismo econômico como ideologia para justificar a organização da sociedade capitalista – proprietários dos meios de produção de um lado e assalariados de outro, no que resultou numa sociedade de classes hierarquizada, onde esta sociedade de classes obedece critérios econômicos.

A partir de então o socialismo se constitui tendo por finalidade propor alternativas para superar as injustiças sociais. Porém, a teoria socialista ganhou força com Karl Marx e Engels, que pregavam a necessidade de derrubar a burguesia e por fim à propriedade privada, implantando um regime socialista tendo por base o poder dos trabalhadores na propriedade dos meios de produção, colocando o marxismo, principalmente a partir de O Capital, de Karl Marx, como força indispensável à análise crítica do capitalismo, afirmando que este leva à sua própria contradição, onde a principal contradição é a luta de classes.

Já na atualidade, o operário, apresenta outro perfil, onde a classe trabalhadora de antigamente não pode ser comparada com a dos dias atuais, devido às transformações dos meios de produção, sendo que estas transformações pôs fim à movimentos operários que reivindicavam mudanças e melhorias em seu favor.



As condições do operariado de outrora eram outras, pois enquanto tinham condições de desenvolvimento apresentavam ameaças à classe patronal e ao próprio Estado – é o caso dos soviets (operários) que eram maioria entre os bolchevistas na Rússia e acabaram por derrubar o Antigo Regime e implantar pela primeira vez na história o regime socialista. Enquanto que na atualidade, o capitalismo impera e engole, e o emprego assalariado constitui a formação de uma classe também voltada para as suas relações de trabalho, porém agora caracterizada pela ampliação dos modos de produção inseridos no neoliberalismo fortemente presente na globalização. E como o mercado de trabalho, atualmente, é bastante competitivo mudou-se o foco da classe trabalhadora, onde esta se especializa cada vez mais para melhor se enquadrar no sistema capitalista, ainda que, sabendo que o mesmo sistema leva à desigualdade social, uma vez que só favorece economicamente potências “imperialistas”. O mundo se tornou individualista, as pessoas se tornaram individualistas, pois a busca da melhoria não é mais voltada para o coletivo, mas sim para o particular.

A educação em massa também é uma das grandes responsáveis por essa mudança, considerando que há uma diferença muito grande entre os líderes dos movimentos operários do passado com os líderes da atualidade.

Em tempos passados, os líderes eram presos à sindicatos e ligados aos movimentos da classe trabalhadora; enquanto que hoje muitos líderes se dispersam e vão para as faculdades ou universidades. Penso que a qualidade dos líderes de antigamente era melhor, porque eram militantes fiéis à causa. Os líderes de outrora eram revolucionários, enquanto que os de hoje, talvez não passam de intelectuais formados em universidades. Não são líderes natos, mas líderes fabricados, que não é a mesma coisa. Há exceções, obviamente.



Quanto ao mal uso do marxismo e o recuo dos comunistas em que o Gilson se refere, depende do período que ele pensou. Se ele estava se referindo à épocas passadas, o recuo dos comunistas, pelo menos, de uma boa parte, está relacionada sim com o mal uso do marxismo através do stalinismo. O totalitarismo de esquerda de Stalin foi tão cruel quanto os fascismos de Hitler, Mussolini e Vargas (lembrando que o nazismo instalado por Hitler na Alemanha pode ser apontado como exemplo mais representativo do totalitarismo de direita). As práticas de Stalin eram voltadas para concepções contrárias à ideologia marxista e isso foi a responsável pela dissidência de comunistas, não só da União Soviética, mas de vários países, resultando no afastamento de muitos do próprio Partido. Mas isso não significou o recuo dos mesmos em relação à luta de classes. Deixar de ser comunista, não significa deixar de ser socialista. Todo comunista é socialista, mas nem todo socialista é comunista.



No entanto, se ele está se referindo à atualidade, penso que não se trata do recuo dos comunistas na luta de classes, mas sim do fato de que a Revolução Russa de 1917 não deu certo e o comunismo hoje não representa mais perigo para os Estados Unidos. Enquanto vivíamos no tempo da Guerra Fria, o comunismo soviético significava uma ameaça ideológica contra o liberalismo norte-americano. Quando o Muro de Berlim caiu e algum tempo depois com a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (União Soviética), que era considerada forte área de influência no mundo, deixou de imperar ao lado dos Estados Unidos, o comunismo como movimento revolucionário deixou de existir. Nem mesmo os países comunistas que ainda restam hoje, representam forças de influência no globo, até porque o comunismo não é mais considerado como alternativa de regime de governo. E esses países também não procuram exportar o comunismo como a União Soviética fazia em tempos remotos. Isso sem levar em consideração, que Cuba, por exemplo, já vive o período pós-Castro e a China não apresenta mais economia planificada, economia fechada.



Mas, se está, ainda, se referindo ao recuo dos comunistas, aqui no Brasil, volto a escrever que as transformações ocorridas nos meios de produção, na classe trabalhadora e na própria sociedade, num sentido mais amplo, são as responsáveis. E para reforçar farei minhas as palavras de Luiz Carlos Prestes ao romper com o Partido Comunista Brasileiro:

Luiz Carlos Prestes se separa do Partido Comunista em 1980 e faz críticas duríssimas à direção do partido e defende o redirecionamento dos rumos do PCB, então na ilegalidade. Prestes afirma que “os comunistas perderam a posição de vanguarda diante da classe trabalhadora e é preciso ter a coragem política de reconhecer que a orientação política do PCB está superada e não corresponde à realidade do movimento operário e popular do momento. Estamos atrasados no que diz respeito à análise da realidade brasileira e não temos respostas para os nossos novos e complexos problemas que nos são agora apresentados pela própria vida, o que vem sido refletido na passividade, falta de iniciativa e, inclusive, ausência dos comunistas na vida política nacional de hoje”. Luiz Carlos Prestes embora rompendo com o Partido Comunista, não deixou de ser socialista, apenas se adaptou às mudanças políticas, econômicas e sociais do mundo do qual estava inserido.



Por fim, penso que não se trata de crise do marxismo nem tampouco do recuo dos comunistas, mas sim de transformações na sociedade.



Lilian Regina Andrade
Professora de  História  - Pinhalão - PR









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